Faz um tempo que achamos, num cesto de liquidação da Livraria da Vila, um livro imenso e azul com o título "O mais belo livro da cozinha da China" (China, the Beautiful cookbook), da Editorial Verbo de Portugal.
O livro divide a China em regiões, trazendo receitas do Cantão, Sechuan, Iunan, além das cidades Pequim e Xangai.
Até então, já tinhamos levado a Júlia para conhecer comida do Cantão (Chi Fu), de Pequim e Taiwan (China Gril - que infelizmente fechou), entre outras, mas descobrimos no livrão que ainda faltava comida do Sechuan:
"Os sabores picantes da Índia misturaram-se com a cozinha de Sechuan. Os viajantes trouxeram o budismo para a província há mais de dois mil anos. Com os comerciantes e missionários vieram especiarias, ervas e técnicas da cozinha indiana, juntamento com os ensinamentos do budismo, e o forte legado vegetariano que está ainda muito vivo em pratos familiares (...)"
Uma das coisas mais incríveis de morar em São Paulo é que vários pedacinhos do mundo vieram parar aqui como uma benção para os gourmands.
Só por isso, existe um restaurante na cidade especializado em comida de Sechuan, o Dinastia Ritz, que obviamente fica na Liberdade.
Fomos lá pela primeira vez no último sábado e, pela própria decoração, já deu para sentir que ele não segue o padrão chinês de decoração, porque não é pretensioso e não usa elementos daquele país. Tem uma certa austeridade e simplicidade incomum, quase japonesa, coreana... ou será budista?
O cardápio é escrito em português (cozido = cogido) e os atendentes são extremamente gentis, o que facilita fazer uma escolha mais acertada, com suas explicações.
Pedimos então:
• Caranguejo com gengibre (siri)
• Costelinhas agridoces e picantes
• Brócolis chinês
• Arroz
• Camarão no vapor com alho e coentro
O caranguejo, prato favorito da Júlia desde o China Grill, é servido generosamente, deixando aos poucos a mesa em silêncio, diante da concentração para descascá-lo. No Dinastia Ritz ele leva alho, gengibre e pimenta, mas de uma forma delicada que uma criança de 5 anos pode comer.
No entanto, o abuso das pimentas fica por conta do porco agridoce. Confesso: o melhor do gênero que já comi em minha vida.
O brócolis chinês, que não tem nada de brócolis, tem o frescor típico das verduras chinesas.
Já o camarão, nem eu, nem a Júlia curtimos muito, pelo sabor marcante demais do coentro. O problema realmente não é o coentro, mas a quantidade usada. Ou quesrão de gosto mesmo.
Para finalizar, bebemos chá de jasmim e então algo aconteceu comigo: o sabor das pimentas e do agridoce ressurgiu na minha boca do "nada", mostrando uma combinação mágica entre comida e bebida.
Para fazer essa viagem para Sechuan, gastamos em 3 pessoas apenas R$ 130,00, com serviço incluído.
Assim como gastamos um pacote inteiro de guardanapos de papel, porque comer siri não é fácil, não.
Saímos com a sensação maravilhosa da descoberta. Sechuan agora não existia mais apenas em nosso livrão.
No dia seguinte, não houve dúvida: voltamos ao Dinastia Ritz e eu me tornei a prefeita do Foursquare.
Mas esse almoço eu conto depois. Aguardem.
Costelinha agridoce e picante.
Sechuan, no livrão azul. Um lugar que desperta a imaginação.
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